terça-feira, 28 de junho de 2011

SANJURO O SAMURAI IMPIEDOSO



O velho oeste estadunidense e o Japão feudal parecem fontes inesgotáveis para roteiristas de todos os gêneros de arte, e não por acaso o cinema e a literatura mostram filmes e livros que reúnem estes dois universos tão distintos, mostrando algum ou alguns habitantes da distante Terra do Sol Nascente vivendo aventuras nas pradarias da porção norte da América, e vice-versa. As Histórias-em-Quadrinhos também não ficariam fora desta: aqui no Brasil foi lançado no ano de 1973 um gibi de formato europeu mostrando um personagem com estas características, um japonês enfrentando problemas no faroeste: trata-se de Sanjuro, O Samurai Impiedoso, lançado pela M&C Editores - “M” de Minami Keizi e “C” de Carlos da Cunha, sendo que o personagem foi criado pela dupla Paulo Hamsaki-Paulo Fukue. Bem, constatando os nomes de Keizi, Hamasaki e Fukue, parecemos estar diante de uma dissidência da Editora Edrel, já que todos trabalharam lá. Outros títulos lançados pela M&C foram QI, A Pausa, Curtição, UAU, além das renovadas versões da Múmia (Gedeone Malagola e Ignácio Justo) e do Lobisomem (Gedeone e Nico Rosso).
Voltando a Sanjuro, abrindo a revista temos um prefácio muito criativo, os autores auto-desenhados apresentam eles mesmos a história que viria a seguir, mostrando o conhecimento que têm dos fatos históricos e introduzindo os leitores para a aventura. E, de fato, não há do que reclamar, pois Sanjuro é mesmo uma HQ espetacular, roteiro dinâmico e desenhos belíssimos. Se fosse feita nos EUA ou no Japão tornar-se-ia série longeva e notável, mas aqui na tristeza dos trópicos não teve muita chance, e tudo leva a crer que Sanjuro ficou só neste número. De qualquer forma, para qualquer paciente e cuidadoso historiador dos Quadrinhos, Sanjuro merece ser lembrado como um dos ótimos personagens da HQ brasileira já criados. O homem do título é o chefe da guarda do embaixador do Japão nos EUA, cuja comitiva se encontra numa viagem ferroviária cruzando vales, planícies e montanhas para levar um valioso regalo ao presidente norte-americano: uma linda espada cravejada de diamantes. Claro, facínoras de todo tipo ficaram sabendo disso e o trajeto será cheio de perigos. A saga divide-se em três capítulos interligados mas ao mesmo tempo perfeitamente compreensíveis por si sós, como se fossem curtas HQs independentes. Sanjuro encontra bandidos e valentões armados de colts e winchesters que ele enfrenta com sua habilidade na espada e nos shurikens, as mortais estrelas pontiagudas de metal. E, claro, como todo bom herói que se preze, está sempre dando sua ajuda para a gente boa, especialmente aos apaches. Ação e violência não são as únicas preocupações dos autores, mas também mostrar o choque cultural entre pessoas de nações tão distintas - não raro Sanjuro reclama da falta de civilidade do povo americano a quem considera “ignorante e mal informado”. Fukue é lembrado pelos heróis que desenhou para a Edrel: Tarum, Super Heros e Pabeyma. Hamasaki, mesmo jovem na época já havia tido boa experiência como estagiário da Cooperativa Editora e Trabalho de Porto Alegre (CEPTA), no início da década de 1960. Pela M&C teve outra personagem com gibi próprio, a impagável Jana. Depois de muito participar na criação de HQs de terror, passou pela Grafipar (Curitiba) e pouco depois tornou-se editor independente, relançando alguns de seus personagens que haviam aparecido na editora paranaense, como Ágata e Torn. Acabou se tornando diretor da arte dos estúdios de Maurício de Souza. No ano de 2005 voltou a lançar um gibi de faroeste, agora pela Editora Noblet: Cavaleiros do Oeste, com ótimas HQs e excelente edição em formato americano, mas pelo visto ficou só no primeiro número, totalmente ignorado pelos leitores compatriotas – claro, se fosse lançado pela Marvel ou DC talvez fizesse sucesso por aqui. (JS)