PERSONAGENS DOS GIBIS

AS AVENTURAS DE MILTON RIBEIRO


Os primeiros anos da década de 50 do século passado foram de grande vulto para o cinema brasileiro, com a exibição de um filme que se tornaria um grande clássico entre os cinéfilos: O Cangaceiro, de Lima Barreto (não é o famoso escritor carioca, mas um homônimo), que ganhou prêmios no exterior e transformou seu principal protagonista, Milton Ribeiro, em astro de renome internacional. Na época, Ribeiro tinha como vizinho um artista das Histórias-em-Quadrinhos, e com isso pensou em contatá-lo para uma possível versão do filme O Cangaceiro para as páginas de gibi. O artista em questão atendia pelo nome de Gedeone Malagola, então um jovem de 30 e poucos anos que dava seus primeiros passos como roteirista e ilustrador de HQs na paulistana Editora Júpiter, de Auro Teixeira (Ribeiro e Malagola residiam em Jundiaí, próximo da capital paulista). As negociações para se conseguir os direitos do filme não avançaram, e Milton Rodrigues pensou em transformar a si mesmo, ou por outra, apresentar um personagem vestido de cangaceiro chamado exatamente... Milton Ribeiro! E o ator deu carta branca ao vizinho & amigo Gedeone, só exigindo que o personagem fosse totalmente voltado ao Bem, e por isso que o Milton Ribeiro do gibi é diferente do sádico & violento Capitão Galdino, personagem que o ator interpretou no laureado filme. Muito ao contrário, Milton Ribeiro estava sempre ao lado da lei e da justiça.

Milton Ribeiro em Quadrinhos começou a ser publicado pela própria Editora Júpiter em Aventuras No Sertão (no ano de 1953), e posteriormente na famosa revista Vida Juvenil de Mário Hora Júnior, onde a série foi publicada por quase dez anos, e, mesmo não tendo aparecido em todos os números, tornou-se um inesperado sucesso entre os leitores, sucesso que durou quase uma década. E com a longevidade a série foi ganhando alguns outros personagens, como Filhota (uma versão da Luzia-Homem, eventual parceira de Mílton Ribeiro, em algumas aventuras tendo destaque principal) e o delegado Ricardo – que fisicamente se assemelhava ao próprio Gedeone (que também tinha por hábito desenhar colegas seus como personagens das histórias). Gedeone, a propósito, já demonstrou na ocasião muita criatividade (a marca de sua carreira), neste personagem que lhe exigiu muito estudo também, haja vista a adaptação que fez do romance de José de Alencar, O Gaúcho, e também sua polêmica versão sobre o conflito de Canudos. (JS)





Gedeone Malagola (de pé) e Mílton Ribeiro




JUVÊNCIO, O JUSTICEIRO





Um dos personagens mais populares dos comics em todos os tempos, The Lone Ranger (batizado no Brasil como Zorro) teve origem num programa radiofônico. O Brasil também teve sua versão do Lone Ranger, e que, tal qual seu similar norte-americano, originou-se num programa de rádio, criação de Reinaldo dos Santos: Juvêncio, O Justiceiro. Quem emprestou a voz a Juvêncio foi Vicente Lia. E, se o Zorro tinha um parceiro (como tinham parceiros quase todos os heróis de outrora), o famoso Tonto que em nossa língua possibilitou uma série de piadas e trocadilhos infames, nosso Juvêncio não poderia ficar para trás, e vivia aventuras ao lado do jovem Juquinha – que nas rádios era ouvido através da voz de Wanderley Cardoso, cantor em atividade até os dias de hoje. Graças ao grande sucesso do programa de rádio, a Editora Prelúdio Ltda. passou a lançar as aventuras de Juvêncio em HQs, com revista própria (em fomatinho) a partir da década de 60 do século passado, e que teve ao menos duas dezenas de números. Nalgumas capas vocês podem ler as palavras "páginas coloridas", mas não eram exatamente coloridas como nos acostumamos a ver, mas sim um tom que chamamos de sépia, ou duas cores, em tons de vermelho. Grandes argumentistas e ilustradores dos Quadrinhos brasileiros mostraram seu talento nas páginas de Juvêncio, O Justiceiro: os roteiros ficaram a cargo de Rubens Francisco Luchetti, Gedeone Malagola, Helena Fonseca, Fred Jorge (houve também textos para os quadrinhos escritos por Reinaldo dos Santos), e o desenharam Sérgio Lima, Rodolfo Zalla, José Acácio dos Santos e Eugênio Colonnese. Apesar do evidentemente inspirado no faroeste americano, seus autores se esforçaram em adaptar as aventuras do mascarado para cenários e ambientes brasileiros, mais especificamente em pequenas cidades nordestinas, mostrando os heróis cavalgando pela caatinga e enfrentando cangaceiros.








OS CONQUISTADORES




No ano de 1969 a Gráfica & Editora Penteado (GEP) lançava nas bancas um gibi especial chamado Os Conquistadores, apresentando aventura em HQ com o personagem Antônio de Almeida Lara. A ação transcorre no ano de 1700, narrando enredo fictício mas que demonstra o bom conhecimento da História que tem o roteirista, ele que aparece muito bem acompanhado por um ilustrador que apresenta brilhantemente cenários & personagens. Poucas informações pude encontrar a respeito dos autores. Na capa há uma assinatura dupla: Andy e Raposo. Tudo indica ser Andy o roteirista, e Raposo o ilustrador. Ou terá sido Andy o ilustrador, e Raposo o artefinalista? Ou ainda, seria Raposo um pseudônimo (aproveitando o nome do famoso bandeirante, Raposo Tavares)? Tive a chance de consultar mestre Gedeone Malagola, que por ocasião do lançamento de Os Conquistadores era diretor artístico da GEP. Gedeone relembra que os autores entregaram o material e sumiram sem mais dar notícias, e não voltaram à editora nem mesmo para receber o pagamento (Gedeone confirma que a revista vendeu muito bem). Uma pena, e infelizmente, não é o único exemplo de talentosos autores brasileiros das HQs que abandonam a estrada antes do meio do caminho...




Quanto ao referido personagem principal deste gibi, Antônio de Almeida Lara é um bon vivant da vila de São Paulo, gastando a herança que recebeu de seu pai, renomado bandeirante, em farras e bebedeiras. Até o dia em que o dinheiro finalmente se esvai e, para ajudar sua mãe, Lara decide dar fim à boa vida e parte de encontro à bandeira de seu tio Fernão de Albuquerque, que buscava ouro se embrenhando no sertão paulista. A partir daí são incontáveis os perigos e as aventuras que atravessam o caminho do rapaz, fazendo desta esquecida HQ um pequeno clássico. Antônio de Almeida Lara se depara com todo tipo de perigo, especialmente animais selvagens: onça pintada, porcos bravios, sucuri, lobo guará... encontrando o tio, este se mostra severo porém justo, e bota o sobrinho para trabalhar duro. Outro que alcançou a bandeira e acabou se tornando amigo de Lara é o negro Angola, fugido de seus donos, inconformado por ter sido separado de sua amada companheira. Além dos perigos da mata, os homens da bandeira de Fernão Albuquerque ainda têm que enfrentar facínoras saqueadores, que desejam tomar na mão grande todo ouro exaustivamente garimpado pelo grupo bandeirante. Após terrível batalha, os bandidos conseguem ser detidos. Na segunda parte da “Saga de Lara”, o herói percorre o trajeto de volta pra casa junto de seu novo escravo-parceiro, o negro Angola (por quem se afeiçoou e admira a coragem). No caminho encontram Pedro, caçador de ouro que havia sido abandonado e traído por seu grupo. Os três passam então a enfrentar novos perigos, até o regresso ao lar dos Lara, onde Antônio pôde enfim abraçar sua mãe e dar o dinheiro ganho com tanto sacrifício na bandeira. Infelizmente Os Conquistadores ficou nesta única edição.




DIÁRIO DE GUERRA - A F.E.B. EM QUADRINHOS




Um dos maiores flagelos da humanidade e que persiste até os dias de hoje, as guerras são também motivo de grande fascinação, já que é assunto retratado em diversas formas de arte, e as Histórias-em-Quadrinhos não ficariam de fora desta. Se nos dias de hoje a produção no estilo é quase inexistente (uma honrada e talentosa exceção encontra-se no álbum Destemido, organizado por Dennis Oliveira), no passado foram feitos milhares de títulos em gibis narrando histórias do que acontecia nos campos de batalha. Os EUA possuem tradição de se envolver em conflitos diversos – e, mesmo com todos os defeitos que tenha como nação, dos pecados de seus governos, foi o grande guardião da liberdade durante a II Guerra Mundial, e esta tradição gerou uma formidável geração de contadores de histórias de guerra. Muitas destas histórias vieram parar nos Quadrinhos, um gênero que rapidamente tornou-se muitíssimo apreciado nos tempos de grande popularidade dos gibis. Dentre os roteiristas, o nome de Robert Kanigher é o primeiro que nos vêm à cabeça, não por ser um precursor do estilo, mas por sua vasta produção e principalmente pelo tom renovador de suas histórias, deixando de focar os atos heróicos simplesmente e dando mais destaque aos nobres sentimentos humanos que afloram mesmo em circunstâncias tão terríveis. Kanigher apresentava-nos em suas histórias de guerra personagens tremendamente humanizados, aboradva temas profundos, intensos, sem jamais se descuidar da finalidade da HQ: entreter o leitor. Todos estes ingredientes Kanigher levou a seu personagem mais famoso, o Sargento Rock da Companhia Moleza (Sgt. Rock), que apareceu originalmente nas páginas de Our Army At War e cujo sucesso galgou o personagem a um longevo título próprio, bem sucedido entre os leitores brasileiros também, tendo sido publicado pela Ebal. Cito Kanigher como representante de uma geração de notáveis roteiristas. Já dentre os artistas brasileiros dos quadrinhos que durante os anos 60 do século passado tiveram a oportunidade de escrever e desenhar sobre histórias de guerra, seguiram a linha de Kanigher, e como o Brasil também teve sua participação, sua importância no desfecho do conflito da II Guerra Mundial, não faltaram histórias, não faltou inspiração! Os soldados e oficiais da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que entre erros e acertos cumpriram valorosamente sua missão nos campos de batalha da Europa, já haviam se tornado conhecidos personagens de gibis (em títulos como Conquista e Combate), quando na metade final dos anos 1960 a Gráfica & Editora Penteado (GEP), de Miguel Falcone Penteado, lançou nas bancas o gibi Diário de Guerra, propondo aos leitores logo na capa do primeiro número a chamativa advertência de que se tratava de “uma revista de guerra diferente”. E talvez tivesse mesmo razão: publicando HQs produzidas exclusivamente por artistas brasileiros (ou estrangeiros aqui radicados), muitas das histórias lançadas nesta revista mostravam personagens profundamente humanizados, revelando aos leitores situações reais vividas pelos pracinhas brasileiros - não foi a toa que, dentre os roteiristas da GEP estava Alberto André Paroche, um legítimo ex-pracinha que havia visto de perto os horrores, e, paradoxalmente, a solidariedade nos conflitos bélicos na II Guerra. Garth Ennis, badalado roteirista da moçada de hoje em dia, que se destacou pela excessiva violência explícita com que narra suas histórias, na GEP seria no máximo contínuo, ou office boy. Coube a mim a sorte de encontrar quatro números desta coleção, num sebo na cidade paulista de Bauru: os números 1, 7, 8 e 10, lançados nas bancas brasileiras provavelmente entre os anos de 1968 e 1969. A seguir vamos comentar mais detalhadamente cada um destes gibis.




Diário de Guerra n. 1 estréia com a HQ chamada “Mêdo” (na época ainda se grafava o acento circunflexo), escrita por Paroche e ilustrada pelo grande Rodolfo Zalla, argentino de alma brasileira. Retratando a situação de alguns pracinhas da FEB, fala exatamente daquele sentimento, ou daqueles sentimentos que mais afligem os soldados de qualquer nação: quando a covardia e a coragem se confundem, as conseqüências podem ser trágicas. É também da dupla Paroche-Zalla a segunda história deste primeiro número, “Claudia”, uma fascinante love story nos campos de batalha italianos. Um pracinha se apaixona por uma jovem italiana que tivera o rosto deformado por soldados alemães (e que ainda haviam matado seu pai). A feiúra na face da moça não impede o amor devotado pelo soldado brasileiro. De volta ao combate, ele tem chance de se vingar dos algozes de Claudia, mas ao retornar para a cidade onde a encontrara, receberá uma péssima notícia. Completa esta primeira edição de Diário de Guerra “Uma Nova Esperança”, que não fala sobre a FEB, mas um relato banal sobre confrontos entre americanos e chineses... mas não seriam coreanos, não? Huum... escrita e desenhada por Osvaldo Talo (que, assim como Zalla, é um argentino apaixonado pelo Brasil), se o roteiro parece pouco inspirado, seus desenhos dinâmicos muito valorizam a HQ.



Diário de Guerra n.7 traz belíssima capa de Rubens Cordeiro, e começa com “O Grande Covarde”, escrita por Milton Mattos e desenhada pelos irmãos Edno e Edmundo Rodrigues (o notável autor de Jerônimo Herói do Sertão, entre tantos outros personagens em Quadrinhos). No confronto com os alemães, um soldado da FEB angariava forte antipatia dos oficiais e dos colegas, pois se mostrava como um fervoroso cristão e por isso se recusava a tirar a vida de outrem. Ganhou o apelido de “Bíblia”, pois vivia citando os versículos sagrados aos companheiros, mesmo diante de fogo cerrado. Mas, quando a “cobra vai fumar” (o lema dos combatentes em ação), “Bíblia” surpreende pela impetuosa coragem - e sempre agindo como deve agir um bom cristão. Os irmãos Rodrigues se destacam por mostrar nas HQs um estilo que se assemelha ao do mestre Joe Kubert. Segue o número 7 com memorável HQ escrita e desenhada por Rodolfo Zalla, chamada “O Equilibrista”, que aborda um tema comum à FEB: a diversidade dos pracinhas, não só regionais mas também nos ofícios & profissões dos soldados que formavam as tropas. Aqui, um telefonista e um equilibrista de circo é quem vão tentar resolver a parada, cortando fios que eram essenciais para as comunicações entre os inimigos. Esta HQ foi republicada anos depois, já na década de 1980, num gibizão da Editora Ninja de Fernando Mendes, Pelotão Suicida (que é, a propósito, o nome de outro gibi de guerra contemporâneo do Diário de Guerra, mas lançado por outra editora, a Jotaesse). A sétima edição se encerra com chave-de-ouro, com outra notável HQ da dupla Paroche-Zalla: “Santa Maria Villiana”, onde o próprio Paroche é o narrador, lembrando um episódio ocorrido realmente, uma batalha em destroçada cidade italiana onde o roteirista e ex-pracinha perdeu muitos de seus colegas, e muitos alemães perderam a vida também - mas nem o bombardeio conseguiu destruir a imagem da Santa Maria. Pode-se “acusar” esta HQ de ser amargurada e pessimista, mas não foram estes os sentimentos predominantes durante os conflitos? É perfeitamente compreensível que um participante, em espectador vivo e presente daqueles tristes acontecimentos, traga em seu coração algumas mágoas, alguns traumas, sentimentos e lembranças muito difíceis de se lidar.
Diário de Guerra n.8 traz linda capa do grande Sérgio Lima (profícuo ilustrador que na GEP ficou conhecido por seu traço em Lobisomem e também na revista da Múmia, ilustrando roteiros de Gedeone Malagola), e abre com “Fim-De-Semana No Front”, outra escrita por Milton Mattos e ilustrada por Edno & Edmundo Rodrigues. Dois pracinhas, Tião Pretinho e Mangueira, querem aproveitar uma pequena folga entre uma batalha e outra e tentar descolar algumas gatinhas na cidade de Nápoles (famosa por suas belas e jovens mulheres), mas a guerra não dá trégua e os dois combatentes, ambos tidos como “alterados” (indisciplinados) por oficiais & colegas, mostram muita coragem na hora do “vamos-ver”. Uma chance para o roteirista Mattos abordar outros assuntos como racismo, malandragem, religiosidade e amizade. Paroche-Zalla retornam com tudo em “À Sangue Frio”, história violentíssima que acaba comovendo até mesmo o lado inimigo - uma boa chance para mostrar aos leitores um fato histórico comprovado por autores como Hélio Silva e César Maximiano, e desconhecido da maioria das pessoas: a dignidade dos soldados alemães em combate. Maxiamiano comprova, em seu livro sobre os pracinhas da FEB, Onde Estão Nossos Heróis, que nos diversos campos de batalha por toda a Itália eram encontradas lápides improvisadas, grafadas em alemão, homenageando o guerreiro inimigo morto em combate - os soldados brasileiros, por seu lado, faziam o mesmo sempre que tinham oportunidade de enterrar algum “bosche” (o respeito mútuo que existia entre os combatentes brasileiros e alemães é algo que merece mesmo maior estudo dos historiadores). Encerra esta outra notável edição de Diário de Guerra mais uma do trio Mattos-Edno & Edmundo Rodrigues: “Homens Contra Tanques”, muito mais do que mostrar atos de heroísmo dos pracinhas, toca num outro assunto que foi muito marcante durante a participação brasileira, especialmente nos primeiros meses de recrutamento: as rusgas entre eles próprios, tão diferentes eram entre si os soldados convocados para a guerra. Nesta história, Maritaca e Bahia, dois pracinhas do Regimento Sampaio, trocam tantas ofensas que o sargento não agüenta e manda os dois resolveram a coisa no muque. Exaustos de tanto trocar porrada, ambos finalmente vêem-se obrigados a ajudar-se mutuamente quando são atacados por tanques alemães. Resolvida a parada com os blindados, ainda restavam as velhas rusgas a se acertar...

Diário de Guerra n.10 decepciona a quem leu os números anteriores, talvez por dedicar muito menos páginas às aventuras da FEB. De qualquer forma, “O Corsário”, de Rodolfo Zalla, tem argumento interessante: durante as batalhas navais entre ingleses e alemães, um oficial britânico acaba prisioneiros dos inimigos germânicos, sendo que o capitão destes era ninguém menos que seu genro - que, por sua vez, dispensa ao sogro um tratamento deveras humanitário. Outro mérito de Zalla nesta HQ foi o de ter conseguido produzir trama de guerra com muito suspense, e nenhuma cena de violência explícita. É também de Zalla a segunda HQ desta edição, “Desembarque”, três páginas narrando sobre soldados canadenses durante um desembarque num explosivo litoral. Termina com outra do trio Mattos & irmãos Rodrigues: “O Soldado Perdido” - perdido mas não sem coragem, afinal, tantos eram os soldados que lutavam contra o nazismo, a favor da fraternidade, da tolerância e da liberdade, promovendo, com o sangue e com a vida, a esperança de um mundo melhor. (JS)



OSCARITO & GRANDE OTELO



O estúdio da Atlântida Cinematográfica, idealizado por José Carlos Burle e Moacir Fenelon em 1941, representou uma bem sucedida tentativa de se criar uma indústria de cinema brasileira, que ganhou impulso especialmente após a entrada de Luís Severiano Ribeiro Jr. na sociedade. Comédias e musicais, e também a mistura destes gêneros foram o grande mote de popularidade da Atlântida, conquistando o público brasileiro. Dos filmes da Atlântida revelou-se uma dupla de comediantes que até hoje possui admiradores entusiasmados: Oscarito & Grande Otelo. Apareceram juntos pela primeira vez, mas sem ainda formar a dupla consagrada, no filme Tristezas Não Pagam Dívidas (de José Carlos Burle, 1944). Ainda na busca do estrelato, puderam ser vistos em Não Adianta Chorar (de Watson Macedo, 1945). Foi sob a batuta deste último diretor, na década seguinte, em filmes como Aviso Aos Navegantes (1950) e Aí Vem O Barão (1951), que a dupla virou fenêmeno popular, continuando a trajetória em outros filmes bem sucedidos como Carnaval Atlântida e Barnabé Tu És Meu, ambos dirigidos por Burle e lançados no ano de 1952. O diretor Carlos Manga esteve na frente dos filmes que são considerados por muitos críticos e admiradores, como os melhores estrelados por Oscarito & Grande Otelo: A Dupla Do Barulho (1953) e Matar Ou Correr (1954).



Como era praxe naquela época, de grande popularidade das Histórias-em-Quadrinhos, Oscarito & Grande Otelo acabaram indo parar nas páginas dos gibis, graças a Editora La Selva. E ficou a cargo de grandes artistas a transposição da formidável dupla das fitas para os Quadrinhos. Jayme Cortez produziu, como era marca do talentoso artista luso-brasileiro, capas belíssimas, de cores resplandecentes. O roteiro das histórias coube a Flávio de Souza e também Cláudio de Souza, ilustrados por outros grandes nomes do Quadrinho nacional – o mais renomado talvez tenha sido o alagoano Messias de Mello, ilustrador e cartunista até hoje reverenciado por seus contemporâneos (Mello já produzia para a La Selva, as HQs da famosa dupla de clowns, Arrelia e Pimentinha). Conforme me relatou Julio Shimamoto (ele que também trabalhou na produção de Arrelia e Pimentinha em Quadrinhos), o próprio Jayme Cortez reverenciava Messias de Mello como mestre de ousadas perspectivas, nos desenhos. Outro a ilustrar as aventuras de Oscarito & Grande Otelo nos gibis foi João Batista Queiroz, renomado cartunista e chargista da paulicéia, ele que foi o criador do rinoceronte Cacareco, que viria a se tornar símbolo do voto de protesto na política paulistana. Outros que ilustraram a dupla do barulho foram os cariocas Juarez Odilon (que os fãs dos heróis brasileiros dos Quadrinhos conhecem muito bem, tendo sido ilustrador de personagens como Capitão 7, Capitão Estrela, Jet Jackson e Drácula) e Aílton Thomas, o mesmo que depois se tornaria profícuo capista da Editora Brasil América de Adolfo Aizen, tendo ilustrado capas dos gibis do Batman, Popeye, Údi-údi (como era chamado o Pica-Pau, de Walter Lantz) entre outros. (por José Salles, com preciosa colaboração do mestre Julio Shimamoto).



SATANIK/ U-235 O HOMEM CIBERNÉTICO

É evento banal, infelizmente, na trajetória das Histórias-em-Quadrinhos no Brasil, nascimento & morte prematura de diversos personagens, por vezes publicados numa única historieta, ou num único gibi. Este Almanaque De Aventuras, publicado pela paulistana Editora Taíka, mostra dois exemplos muito claros deste tipo de fenômeno comum na História dos personagens brasileiros dos Quadrinhos. No Fã Zine n. 18, memorável publicação de José Eduardo Cimó lançada em 1994, uma formidável antologia de famosos e/ou esquecidos personagens brasileiros dos gibis, explica-se claramente a origem deste Almanaque de Aventuras: “Uma edição única de 100 páginas em preto e branco, em que apareceu Satanik. Isto no ano de 1970, quando a Editora Taíka se encontrava em concordata e precisava faturar qualquer coisa, então publicaram Satanik que estava engavetado há anos. Criação de Emilmar D´Alba Di Tullio, com roteiro de Rubens Francisco Luchetti, desenhos de Di Tullio e arte-final de Nico Rosso. Conta Luchetti: num dia de outubro de 1967, Emilmar, um jovem esperançoso, excelente desenhista, com a cabeça cheia de idéias, bateu à porta da casa de Nico Rosso, sobraçando alguns esboços de um personagem que ele criara, chamado ‘Shatan’. O Nico ficou de tal forma impressionado com os desenhos do jovem que o fez procurar por mim, que, baseado naquelas idéias escrevi o primeiro roteiro, rascunhado pelo próprio Tullio, com arte-final do Rosso, e o personagem passou a se chamar Satanik.”


São duas as HQs com Satanik nesta edição única do Almanaque De Aventuras: “O Que Será Satanik?”, contando sua origem, e “A Ilha Pirata”. Quem era Satanik? A própria legenda de abertura tenta explicar: “Um justiceiro? Um agente secreto? Um aventureiro? Um herói? Talvez tudo isto numa só pessoa.” De fato, Satanik é um agente secreto norte-americano, mas de nome brasileiro, Felipe, que acaba caindo de avião na selva amazônica, sobrevive milagrosamente e é salvo por um cientista, que lhe restaura a face dando-lhe novas feições e também um uniforme super-resistente, e que lembra muito aqueles utilizados pelos heróis em Quadrinhos da Golden Age, notadamente o Homem-Rádio. Produto de seu tempo, Satanik vive intensamente o clima da Guerra Fria, enfrentando espiões e espiãs de potências totalitárias. Os roteiros primam pela aventura sem deixar de lado o bom-humor, e a dupla de desenhistas possui dinamismo maravilhoso, especialmente nas seqüências de pancadaria, com irresistível apelo juvenil.

O Almanaque de Aventuras encerra com interessante HQ de outro super-herói brasileiro, U-235 O Homem-Cibernético, criação de Ignácio Justo. Antes de falar mais especificamente deste personagem, um parênteses: Satanik e Homem-Cibernético têm mais em comum do que a existência efêmera e participação na mesma revista: é que Rosso, Luchetti e Justo muito pouco trabalharam com o estilo dos super-heróis. Todos artistas muito ecléticos e versáteis, mas tanto Luchetti quanto Rosso são mais conhecidos pelo que fizeram nos Quadrinhos de terror; e Justo (tenente-aviador na vida real), destacou-se sobremaneira nas histórias de guerra. E a guerra é pano-de-fundo para U-235, já que é criação robótica de um ex-aviador nazista que ficou paralítico nos conflitos aéreos na Europa durante a 2ª. Guerra Mundial, e mais do que ter perdido o movimento das pernas, o cientista é tomado pelo remorso e desde então só pensa em fazer o bem para a humanidade. Refugia-se no Brasil onde adota uma criança e todas as experiências que faz visam melhorar a vida dos semelhantes. O filho cresce e torna-se ele também um oficial da Força Aérea, e é na imagem do próprio filho adotivo que o cientista paraplégico cria um super-robô poderoso, forte e cheio de engenhocas, capaz de soltar raios pelos dedos e portando um invocado cinto de utilidades (nada muito original, eu sei, já não era quando o Batman foi lançado). Segundo nos conta Antonio Luiz Ribeiro em artigo publicado no fanzine Heróis Brazucas n.21, U-235 foi considerado como apologético ao regime militar e boicotado por editores comunistas, e por isso ficou nesta única HQ. Uma pena, já que um grande artista como Ignácio Justo não teve chance de explorar os as potencialidades deste seu personagem, nem os perfis psicológicos dos coadjuvantes, nem o propício cenário para boas aventuras.

 


SANJURO O SAMURAI IMPIEDOSO

O velho oeste estadunidense e o Japão feudal parecem fontes inesgotáveis para roteiristas de todos os gêneros de arte, e não por acaso o cinema e a literatura mostram filmes e livros que reúnem estes dois universos tão distintos, mostrando algum ou alguns habitantes da distante Terra do Sol Nascente vivendo aventuras nas pradarias da porção norte da América, e vice-versa. As Histórias-em-Quadrinhos também não ficariam fora desta: aqui no Brasil foi lançado no ano de 1973 um gibi de formato europeu mostrando um personagem com estas características, um japonês enfrentando problemas no faroeste: trata-se de Sanjuro, O Samurai Impiedoso, lançado pela M&C Editores - “M” de Minami Keizi e “C” de Carlos da Cunha, sendo que o personagem foi criado pela dupla Paulo Hamsaki-Paulo Fukue. Bem, constatando os nomes de Keizi, Hamasaki e Fukue, parecemos estar diante de uma dissidência da Editora Edrel, já que todos trabalharam lá. Outros títulos lançados pela M&C foram QI, A Pausa, Curtição, UAU, além das renovadas versões da Múmia (Gedeone Malagola e Ignácio Justo) e do Lobisomem (Gedeone e Nico Rosso).
Voltando a Sanjuro, abrindo a revista temos um prefácio muito criativo, os autores auto-desenhados apresentam eles mesmos a história que viria a seguir, mostrando o conhecimento que têm dos fatos históricos e introduzindo os leitores para a aventura. E, de fato, não há do que reclamar, pois Sanjuro é mesmo uma HQ espetacular, roteiro dinâmico e desenhos belíssimos. Se fosse feita nos EUA ou no Japão tornar-se-ia série longeva e notável, mas aqui na tristeza dos trópicos não teve muita chance, e tudo leva a crer que Sanjuro ficou só neste número. De qualquer forma, para qualquer paciente e cuidadoso historiador dos Quadrinhos, Sanjuro merece ser lembrado como um dos ótimos personagens da HQ brasileira já criados. O homem do título é o chefe da guarda do embaixador do Japão nos EUA, cuja comitiva se encontra numa viagem ferroviária cruzando vales, planícies e montanhas para levar um valioso regalo ao presidente norte-americano: uma linda espada cravejada de diamantes. Claro, facínoras de todo tipo ficaram sabendo disso e o trajeto será cheio de perigos. A saga divide-se em três capítulos interligados mas ao mesmo tempo perfeitamente compreensíveis por si sós, como se fossem curtas HQs independentes. Sanjuro encontra bandidos e valentões armados de colts e winchesters que ele enfrenta com sua habilidade na espada e nos shurikens, as mortais estrelas pontiagudas de metal. E, claro, como todo bom herói que se preze, está sempre dando sua ajuda para a gente boa, especialmente aos apaches. Ação e violência não são as únicas preocupações dos autores, mas também mostrar o choque cultural entre pessoas de nações tão distintas - não raro Sanjuro reclama da falta de civilidade do povo americano a quem considera “ignorante e mal informado”. Fukue é lembrado pelos heróis que desenhou para a Edrel: Tarum, Super Heros e Pabeyma. Hamasaki, mesmo jovem na época já havia tido boa experiência como estagiário da Cooperativa Editora e Trabalho de Porto Alegre (CEPTA), no início da década de 1960. Pela M&C teve outra personagem com gibi próprio, a impagável Jana. Depois de muito participar na criação de HQs de terror, passou pela Grafipar (Curitiba) e pouco depois tornou-se editor independente, relançando alguns de seus personagens que haviam aparecido na editora paranaense, como Ágata e Torn. Acabou se tornando diretor da arte dos estúdios de Maurício de Souza. No ano de 2005 voltou a lançar um gibi de faroeste, agora pela Editora Noblet: Cavaleiros do Oeste, com ótimas HQs e excelente edição em formato americano, mas pelo visto ficou só no primeiro número, totalmente ignorado pelos leitores compatriotas – claro, se fosse lançado pela Marvel ou DC talvez fizesse sucesso por aqui. (JS)



CAPITÃO ATLAS

Baseado em programa radiofônico criado por Péricles do Amaral, o Capitão Atlas veio a tornar-se o primeiro herói brasileiro dos Quadrinhos a ganhar gibi próprio, lançado em 28 de fevereiro de 1951 pela Editora Ayroza. Esta primeira fase das aventuras do Capitão Atlas em Quadrinhos durou 24 números, com roteiros do próprio criador Péricles do Amaral (escritor talentoso e muito criativo), tendo desenhistas como Vasquez, Luiz (de quem não conseguimos maiores informações), além de Fernando Dias da Silva e André Le Blanc - este último mais conhecido entre os estudiosos dos comics, de origem haitiana radicado no Brasil, artista muito profícuo da Editora Brasil América Ltda. (Ebal) de Adolfo Aizen, posteriormente Le Blanc trabalhou nos EUA, tornando-se assistente de Al Capp, o célebre autor do Ferdinando/ L’il Abner. A popularidade do Capitão Atlas não se restringiu ao rádio e aos Quadrinhos, tendo também ganho sua versão para a televisão, em seriado exibido pela TV Rio - evidentemente nenhum registro deste programa de tv chegou até os dias de hoje, como o de nenhum outro dos primórdios da televisão brasileira.

A partir de 1959, as aventuras do Capitão Atlas em Quadrinhos ganharam nova série de gibis através da Editora Garimar (também do Rio de Janeiro). As mesmas histórias produzidas na Editora Ayroza ganharam novas versões, mais detalhadas, agora pelas mãos de artistas talentosos como Getúlio Delphin, Ernesto Garcia e Fernando de Lisboa. Esta nova série durou 12 números. E a popularidade do Capitão Atlas ainda persistiu por alguns anos, sendo que a mesma Editora Garimar tentou uma nova série de aventuras com o herói das selvas brasileiras, a partir de junho de 1966. Parece que nesta 3ª. fase foram reeditadas as histórias publicadas pela Garimar anteriormente. Tenho o primeiro número desta 3ª. fase do Capitão Atlas (a 2ª. pela Garimar), que me foi presenteado pelo saudoso amigo & parceiro Gedeone Malagola, onde consta a história “No Reino Do Dr. Ignátis”, publicada originalmente no número 2 da Editora Ayroza (com desenhos de Luiz), mas neste gibi cuja capa vos apresentei há pouco, a HQ interna é assinada por Getúlio Delphin, e que muito provavelmente já havia sido publicada na 1ª fase da Garimar.
A inspiração do CapitãoAtlas é o Jim das Selvas/Jungle Jim, de Alex Raymond. Atlas vive suas aventuras nas florestas ao lado de seus companheiros Chico (um índio), Tunicão (um cangaceiro), do jovem Quati e de sua namorada, Rainha. As histórias mesclam os gêneros de aventura na selva com ficção científica, e até mesmo uma pontinha de terror-suspense, notabilizando a criatividade do autor Péricles do Amaral. (JS) fontes de pesquisa: Fã Zine de José Eduardo Cimo e O Castelo de Recordações de José Magnago.



TAMBU & KOREME


Dentre os mais imitados personagens dos comics, certamente está o Tarzan de Edgar Rice Burroughs. Nos EUA houve um plágio de ótima qualidade, Kaänga (Kionga, no Brasil), que chegou a ser ilustrado por um dos desenhistas do Tarzan, John Celardo. No Brasil o mais famoso “clone” do Rei das Selvas é Targo, publicado com sucesso em nosso mercado editorial nos anos 60 e 70 do século passado, em várias revistas e almanaques, tendo sido desenhado por mestres como Nico Rosso e Rodolfo Zalla. Além de Targo podemos citar Tarun (Paulo I. Fukue) e Hur (Wilson Fernandes). Mas, antecedendo a todos esses, tivemos Tambu, O Herói das Selvas, produzido por Gedeone Malagola por volta de 1952 para a Editora Júpiter. Quem nos fala sobre isso é o próprio Gedeone: “quando a Júpiter comprou [os direitos] de algumas revistas americanas, veio o Kaänga , do qual tínhamos autorização para publicar com outro nome. Então surgiu Tambu. Entre algumas práticas lamentáveis resultantes da pouca experiência editorial da época, houve as deformações das páginas originais, por motivos de economia, além da grafia incorreta do nome do personagem, pois Tambu não tem acento!”

Também outra personagem dos comics, a conhecida Sheena A Rainha das Selvas acabou causando furor e gerando diversas imitações em todos os países onde existisse gibis (uma popularidade que perdeu e ainda não conseguiu recuperar). Gedeone Malagola, no digno laboratório de HQs que se tornou a Editora Júpiter, criou também uma "Sheena" brazuca: Koreme, aparecia em aventuras solo ou ao lado de Tambú. (JS)




O VINGADOR

Houve um tempo em que os heróis mascarados do faroeste eram os mais populares nas bancas, não só nos EUA mas no Brasil também, onde personagens como Zorro/Lone Ranger, Cavaleiro Negro/Black Rider e Durango Kid eram os títulos mais vendidos, e suas aventuras, as mais apreciadas pelos leitores. Por todo o mundo surgiram personagens de Quadrinhos baseados nos grandes sucessos estadunidenses, e no Brasil não foi diferente, sendo que um deles merece nossa apreciação neste fanzine, pela inesperada repercussão que teve no passado: O Vingador. Lançado pela Editora Outubro em 1961, criação de Hélio Porto e ilustrado inicialmente por Walmir Amaral de Oliveira (capa do primeiro número desenhada por Jayme Cortez), O Vingador teve 40 números, além de almanaques e histórias publicadas em gibis de outros personagens. A Editora Outubro publicou-o até 1966, sendo que, a partir de 1972, foi relançado pela Editora Taíka (que na verdade, republicou as antigas aventuras do herói), durando mais 20 números e alguns almanaques.Além de Hélio Porto, O Vingador teve histórias escritas por Helena Fonseca e Gedeone Malagola; alguns de seus ilustradores também foram responsáveis pelos roteiros, como por exemplo Walmir Amaral, Osvaldo Talo e Miguel Lima. Outros que desenharam o herói mascarado foram Ernesto Capobianco, Juarez Odilon, Edmundo Ridrigues, Nico Rosso, Lyrio Aragão, Fernando de Lisboa e José Delbó (o argentino que posteriormente trabalharia nos EUA desenhando famosos personagens dos Quadrinhos, tais como Turok e Lone Ranger para a Gold Key, bem como a Mulher Maravilha/Wonder Woman e o Superman para a DC Comics). Além de Jayme Cortez, Sérgio Lima e Rodolfo Zalla também produziram capas para O Vingador.
Como era baseado em personagens dos comics de faroeste norte-americano, a origem do Vingador não poderia fugir muito disso: Nelson Coston é um jovem que tem o pai covardemente assassinado e que, após conseguir sua vingança, torna-se cavaleiro errante das pradarias. Certo dia, salva um velhinho de uma baita enrascada - e o tal velhinho era ninguém menos do que o Vingador original que, sentindo o peso dos anos, repassa sua máscara para Nelson. Diferente do Lone Ranger que não tira a máscara nem para dormir, mas semelhante ao Cavaleiro Negro e ao Durango Kid, Nelson torna-se a identidade secreta do renovado Vingador. A respeito daquele “velhinho” que foi salvo por Nelson, lembremo-nos de que antes deste Vingador de Hélio Porto & Valmir Amaral, a HQB já registrara, duas décadas antes, outro caubói mascarado homônimo, com histórias escritas por Péricles do Amaral (o memorável autor do Capitão Atlas) e desenhado por Fernando Dias da Silva - e tudo indica que talvez esta tenha sido a referência para a origem do Vingador da Editora Continental. Posteriormente, nos primeiros anos da década de 80 do século passado, outro Vingador mascarado do velho oeste cavalgou nas páginas dos gibis, desta feita para a editora paranaense Grafipar/Bico de Pena, em histórias criadas por Franco de Rosa.